DISTRITAL DE VISEU DO BE CONTRA CORTES NOS APOIOS A ESTRUTURAS CULTURAIS DA NOSSA REGIÃO (ACERT E TEATRO VIRIATO)

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A Comissão Distrital de Viseu do Bloco de Esquerda manifesta a sua solidariedade com as estrututas do sector da Cultura que se manifestaram, convocados por sindicatos e associações do sector, em várias cidades, contra o “descalabro da política cultural” do país, traduzido nos concursos de apoio às artes e o novo modelo de financiamento das artes, que levaram a que os resultados provisórios do programa de apoio sustentado até 2021 ficassem muito abaixo dos valores de 2009, com distritos como o Porto, Coimbra e Évora sem os apoios do Estado às suas principais companhias e festivais de teatro, ou Viseu com cortes de 23% nos apoios ao Teatro Viriato e a ACERT-Associação Cultural e Recreativa de Tondela, com cortes de 40%.

Em particular, no que diz respeito ao Distrito de Viseu, o Bloco de Esquerda não pode concordar com os resultados provisórios do Concurso ao Programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021, na área Cruzamentos Disciplinares, que atribuíram à candidatura do Centro de Artes do Espectáculo de Viseu, Associação Cultural e Pedagógica, “Teatro Viriato 2018-2021”, o 1º lugar a nível nacional na modalidade/área artística em que se enquadra, com uma proposta de financiamento de 306.240,00 € para 2018 e 337.919,99 € para cada um dos anos seguintes (2019 a 2021), o que equivale a uma redução, no ano de 2018, relativamente ao financiamento atribuído nos últimos 3 anos, desde 2015, de 93.260,00 € (23%).
A importância do Teatro Viriato na fruição cultural e na criação de públicos nas artes de palco (teatro, dança, música e novo circo), com o contributo do seu Serviço Educativo, traduz-se no crescente aumento do número de espectadores, ao ponto do seu enraizamento na comunidade se ter tornado num dos principais factores para se ter gosto de viver numa cidade do interior como Viseu. O teatro municipal de Viseu tem tido ainda um papel de relevo no apoio a projectos artísticos, através de residências artísticas, e na disponibilização de espaço, equipamento e apoio técnico a projectos com a comunidade, como acontece já esta semana com a estreia da peça “Tempostade”, encenada por Graeme Pulleyn, pela K Cena – Projecto Lusófano de Teatro Jovem. Desenvolve ainda um relacionamento com estruturas de outros concelhos e distritos, numa produção em rede, nomeadamente com a Rede de Programação Cultural 5 Sentidos, criada em 2009 e que conta já com 11 parceiros, com um programa de convite à coprodução e digressão de criações nacionais nas áreas da dança e do novo circo.

Da mesma forma, o BE/Viseu manifesta a sua indignação pelos cortes de 41% nos dois primeiros anos, nos apoios atribuídos à ACERT – Associação Cultural e Recreativa de Tondela, integrada pelo Trigo Limpo Teatro ACERT, colocando-a no último lugar das estruturas apoiadas.
Não são apenas os tondelenses e os viseenses a reconhecer a importância do papel que a ACERT tem tido na vida cultural da região (de que foi um oásis, a 20 km de Viseu, antes da recuperação do Teatro Viriato, no início da década de 2000), ao longo de 42 anos de trabalho artístico e de intervenção cultural comunitária, com três décadas de itinerância nacional e internacional, e a produção do Tom de Festa – Festival de Músicas do Mundo e o FINTA – Festival Internacional de Teatro ACERT, que a projectou para um lugar cimeiro no quadro artístico-cultural nacional e internacional, bem patenteado nos inúmeros prémios e reconhecimentos públicos que recebeu, de onde se destacam a Medalha de Mérito do Ministério da Cultura (1998), Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Tondela (2000); prémios da crítica e em festivais nacionais para a “melhor encenação, melhor dramaturgia e “melhor actor/actriz” para algumas das suas criações teatrais, e a selecção, pelo jornal Público, de “A Partir de Preto” entre os 10 melhores espectáculos do ano de 1994; prémio “Melhor Acontecimento do Ano” (1994) da Associação Internacional dos Críticos de Teatro do Brasil para o projecto “Cumplicidades – Mostra de Expressões Artísticas de Portugal no Brasil”, da ACERT e da Gesto, Coop. Cultural (Porto); Prémio de Honra do Festival Internacional de Teatro d’Agosto de Moçambique. A ACERT foi ainda referenciada num estudo da Comunidade Europeia como exemplo europeu de “Boas Práticas Culturais Para a Promoção de um Melhor e Mais Amplo Acesso de Participação Cultural (2011-2014).
Com um espaço cultural próprio, com 3 auditórios, sala de ensaios, estúdio, galeria de exposições, salas de produção, administrativas e oficina de construção de 375 m2, a ACERT candidatou-se com uma equipa de 15 profissionais com contrato sem termo, e a programação de 317 actividades em 2018, incluindo 37 espectáculos de teatro, 44 de música, 1 de dança, 2 edições (texto teatral original e Livro/CD de música de cena; 61 apresentações itinerantes no país e 1 em Moçambique, para além de 95 acções de formação, 38 actividades de “Desenvolvimento de Públicos”, exposições, residênias artísticas e 4 novas criações do Trigo Limpo Teatro ACERT em 2018 e criação de 9 espectáculos de 2019 a 2021.

O desenvolvimento sustentável do país e em particular das regiões do interior não se pode dissociar de projectos culturais como estes que levam à consolidação da identidade e da auto-estima dos territórios e à fixação das suas gentes, a começar pelos jovens.

O governo PS frustrou as expectativas criadas com as promessas eleitorais de virar a página da austeridade do governo PSD/CDS que tanto prejudicou o campo das Artes e da Cultura, de nada servindo a criação de um ministério.

A Comissão Distrital de Viseu do BE junta a sua voz a todos os que reclamam do governo do PS um compromisso com o patamar mínimo de 1% do Orçamento do Estado para a Cultura, já em 2019.

A Comissão Coordenadora Distrital de Viseu do BLOCO DE ESQUERDA