O perigo de Almaraz em debate

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A AZU – Associação Ambiente em Zonas Uraníferas promoveu uma sessão da extensão do Cine Eco Seia, no auditório dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim, com a projecção dos filmes “Uma bomba atómica na margem do Tejo”, “A central nuclear de Almaraz levanta dúvidas relativamente à segurança”.
O tema “Central de Almaraz – o Perigo aqui tão Perto” foi debatido pelo presidente da AZU, António Minhoto, pelo presidente da Quercus, João Branco, e pelo professor e ambientalista espanhol da Adenex (Asoc. para la Defensa de la Naturaleza y los Recursos de Extremadura), Jose Maria Gonzalez Mazon. O público também participou no debate, colocando questões e manifestando a sua preocupação relativamente ao tema.
A intervenção do António Minhoto foi, como não podia deixar de ser, relativa à situação das minas abandonadas e que urge recuperar. O exemplo vivo dos ex-mineiros das Minas da Urgeiriça não permite que se esteja sempre a adiar o problema. “As Minas da Quinta do Bispo não podem continuar a contaminar a agricultura e o regadio por motivos meramente economicistas”.
Os 100km que separam Portugal da Central Nuclear de Almaraz “não nos salvam”. A luta tem de ser a nível ibérico. A estrutura física da central nuclear de Almaraz situa-se em território espanhol, mas as consequências ambientais ultrapassam a linha imaginária da fronteira.
Por isso, no início da sua intervenção, o ambientalista espanhol agradeceu a luta dos portugueses e relembrou três datas importantes: 28 de Maio (irá decorrer em Vila Real a cimeira Luso-Espanhola), 10 de Junho (grande manifestação em Madrid para encerrar Almaraz) e, finalmente, 8 de junho de 2020 (data do fim da autorização do funcionamento da Central de Almaraz).
O presidente da Quercus relembrou o lucro que estas empresas têm, pois “não pagam os custos de desmantelamento das centrais ou das minas”. Segundo disse, “ignorar os resíduos que possuem 250 mil anos de durabilidade, os bidões que foram deitados ao mar e que ainda lá estão carregados de resíduos, as centenas de acidentes de grau zero ou grau um e que não são noticiados, e menosprezar o perigo e enganar as pessoas dizendo que está tudo controlado são erros graves que pagaremos demasiado caro”.
Enquanto esta sessão decorria, uma das unidades sofreu um incidente no sistema eléctrico. Passado dois dias, a central nuclear de Almaraz, cujo prazo de validade expirou há muito e que utiliza as águas do Tejo para a refrigeração dos seus reactores, teve uma nova paragem não programada.
“Não há fronteiras, há gente”, insiste a A AZU, que continuará a trabalhar em conjunto com outras associações ambientalistas para sensibilizar as populações para os perigos ambientais e sociais decorrentes daquela central.