Os Segundos Estados Gerais da Lusodescendência : encontro nacional de uma rede realizado com sucesso

Nos dias 26 e 27 de janeiro, a Cap Magellan organizou na Maison du Portugal – Cité Universitaire de Paris, a segunda edição dos Estados Gerais da Lusodescedência. Esta iniciativa reuniu mais de 120 dirigentes associativos e/ou professores (franceses, portugueses, caboverdianos, brasileiros e angolanos, lusófonos e lusófilos) para encontrar estratégias de promoção do ensino do português em França e preparar uma campanha nacional para promover a aprendizagem desta língua.

Associações do mundo lusófono, professores e figuras de relevo da Comunidade portuguesa em França preparam-se para lançar uma campanha nacional para promover a aprendizagem da língua portuguesa e, assim, contrariar os preconceitos contra a língua de Camões. “O português ainda é visto como uma língua de imigração (para os franceses) e não tem o prestígio de uma língua estrangeira como, por exemplo, o chinês”, afirmou Anna Martins, Presidente da Cap Magellan, em declarações à Lusa.

Apesar da língua portuguesa ainda ser considerada como uma língua de imigração, a perceção tem vindo a mudar nos últimos anos. “Do ponto de vista político até nem houve grande evolução, mas nas mentalidades francesas vi as coisas a mudarem aos poucos e tenho visto ainda mais nos últimos anos com o acréscimo do turismo francês em Portugal”, afirmou Paul Branquinho, professor de português na escola básica e no liceu de l’Ivroise, em Brest.

Se, por um lado, este professor tem mais alunos lusodescendentes ou do mundo lusófono até ao 9º ano, esta mudança de atitude em relação ao português já é mais visível no liceu. “É nesse público que observamos os efeitos da divulgação da cultura lusófona através de manifestações como o desporto, a canção – e aqui também falo de canções brasileiras que fazem sucesso em França – e ainda com o facto de o português ser uma instituição no nosso estabelecimento”, acrescentou Paul Branquinho.

Segundo este professor, falta agora ao português “um lóbi organizado” para promover o seu ensino, contando que na sua região há já “uma estratégia de propaganda” que tem funcionado com a promoção de viagens de estudo anuais a Portugal e da divulgação da cultura portuguesa.

Esta reunião em Paris aconteceu durante dois dias, sábado e domingo. A manhã de sábado foi dedicada a um ponto de situação da língua portuguesa em França, seguido por uma sessão de debate para reunir os argumentos para promover a língua para os potenciais futuros alunos. Durante a sessão de debate, intervieram  representantes das áreas económicas, culturais e educacionais: Pedro Vaz, fundador e CEO da empresa Ágora Plus e Elisabeth Dos Santos, advogada em Lisboa e Paris; o escritor, compositor e intérprete cabo-verdiano Teófilo Chantre, assim como a cantora portuguesa Mariana Fabião; e, finalmente, o diretor da Escola Internacional Montaigne, Joel Bianco, acompanhado porChristine Rodrigues, presidente do Centro português de formação cultural de Raincy e Mário Gomes, professor de Português no Colégio Fernand Leger rm Petit Quevilly, perto de Rouen.

No sábado à tarde, foram organizados três workshops e uma sessão de formação, durante os quais os representantes das associações lusófonas, os professores portugueses e as personalidades da comunidade portuguesa de França, divididos em pequenos grupos, trabalharam juntos no desenvolvimento de uma campanha de promoção da língua portuguesa.

– Formação “Como abrir uma aula de português? “

– “Kit de Comunicação”

– “Calendário”

–  “Financiamento”

De fato, depois de aprender sobre os mecanismos institucionais por detrás da abertura de uma aula de português, cada grupo discutiu como desenvolver um kit de comunicação para tornar a campanha mais visível, definiu-se um calendário para a campanha e pensou-se sobre maneiras de financiar uma campanha desta amplitude (uma das ideias possíveis é de recorrer ao « crowd funding », muito utilizado por diversas iniciativas cívicas em França).

João Gil, esteve presente  domingo à tarde, para um concerto intimista e para apresentar a iniciativa Portugal Maior, da qual é o coordenador. Este projecto pretende fazer um inventário de músicos e grupos musicais portugueses regularmente presentes no estrangeiro nas comunidades portuguesas. João Gilconsiderou que a ligação entre Portugal e as associações era a chave para o sucesso da língua portuguesa.“Estamos em contacto, articulando tudo o que é organismo público e não público de forma a comunicar a nossa identidade portuguesa, seja através da língua, seja através da música e até como já acontece com o futebol. Claro que a música é um fator de união brutal e vamos aproveitá-la para darmos um passo em frente no enorme divórcio que tem acontecido entre as partes que compõem Portugal”, afirmou o músico.

A cantora angolana Lúcia de Carvalho, que cresceu em Portugal, também tocou várias músicas do seu álbum Kuzola. O brasileiro Gabriel F. Calonge e o francês Gaspard Liberelle, criadores e atores da peça Naufragé(s) vieram apresentá-la.

Esta iniciativa foi considerada “crucial” pela Embaixada de Portugal. O Embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, disse à agencia Lusa, que a segunda edição deste encontro foi sobre um tema “crucial para o desenvolvimento sustentado da relação bilateral” Portugal-França: “a mobilização de esforços para que a língua portuguesa ganhe efetivamente a ‘batalha do paradigma’, e deixe de ser vista como uma língua de uma Comunidade – ‘uma língua de imigração’ – assumindo o seu lugar natural entre as ‘segundas’ ou ‘terceiras línguas” a serem aprendidas pelas crianças e jovens em França”.

Tal como o diplomata, outras figuras da comunidade portuguesa, mas também do ensino em França, como Adelaide Cristóvão, coordenadora geral da educação portuguesa na França e representante do Instituto Camões marcaram  presença neste encontro. Os atores da rede dos Estados Gerais de Lusodescendencia também puderam inspirar se de um exemplo de campanha de promoção línguistica, com Christophe Chaillot, responsável da divisão Língua Francesa do Institut Français e Sophie Sellier, diretora de Comunicação do mesmo instituto, que apresentaram a campanha “Et en plus, je parle français” lançada em 2017. Carlos Zorrinho, Eurodeputado, também participou nesta iniciativa domingo de manhã numa conferência sobre a educação e a inovação filmada pela RTP para o programa Europa Minha.

Para os organizadores do evento, o português está “muito aquém” das suas possibilidades; por isso, é necessário dar às associações, aos professores e os interessados em geral as ferramentas para promover a aprendizagem da língua de Camões.“Escolhemos o eixo da língua portuguesa porque há muito trabalho a fazer e quando comparamos o português com o espanhol, o alemão ou o italiano, está aquém das suas possibilidades em termos de ensino. Vamos tentar construir uma verdadeira campanha para a promoção da língua portuguesa para convencer os decisores locais a abrir novas turmas de português”, disse Anna Martins, Presidente da Cap Magellan, em declarações à Lusa. E isso em estreita colaboração com as entidades públicas relevantes.

O encontro serviu também para traçar um plano de ação que deverá estar implementado em setembro de 2019, a tempo do regresso às aulas. Este plano assumiu a forma de um roteiro, que foi submetido aos comentários e críticas dos participantes durante as conclusões do evento, e que será enviado a cada participante assim que a sua contribuição estiver integrada.

 

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