No seguimento do lançamento do livro de José Manuel dos Santos, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, a PV Editora promove iniciativa com Escola Secundária de Viseu em torno duma obra que problematiza a contemporaneidade
O Politécnico de Viseu (PV) vai promover no próximo dia 4 de junho, terça-feira, pelas 16h30, uma iniciativa na Escola Secundária Viriato a partir do novo livro da PV Editora, «a Atenção», de José Manuel dos Santos. Aberta ao público em geral, a sessão tem entrada livre.
A PV Editora, uma nova linha editorial do PV, lançada a 7 de novembro de 2018, com a obra “Governo e Administração: parentesco relutante, afinidade reforçada”, de António Correia de Campos, tem por missão a promoção da leitura, assente na partilha de conhecimento entre as instituições de ensino superior, e os seus atores, e a população em geral, e ainda na valorização dos escritores da região.
O livro “a Atenção”, apresentado no passado dia 23 de maio em Lisboa, reproduz uma conferência de José Manuel dos Santos na primeira sessão do Ciclo Co-Laborar, realizada em 30 de outubro de 2018, no âmbito do projeto “Portugal entre Patrimónios”, que nas palavras de Emília Ferreira, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), foi “um desafio lançado a várias entidades de norte a sul do país no intuito de se criar uma rede potenciadora de projetos culturais”.
Para o Politécnico de Viseu, parceiro de “Portugal entre Patrimónios”, a publicação na PV Editora de uma “reflexão pertinente sobre o tempo e a interpretação do mundo”, por um dos grandes artesãos da palavra, como definiu Henrique Monteiro na sessão de apresentação em Lisboa, no dia 23 de maio, acontece porque a centralidade de “a Atenção” nos dias de hoje e nas suas diferentes formas, merecia uma perenidade que só uma materialização clássica proporciona.
Em “a Atenção” José Manuel dos Santos percorre uma história da cultura a partir da palavra “atenção” e da sua etimologia, das “suas realizações às suas idealizações, dos seus factos aos seus imaginários, das suas vitórias aos seus fracassos, (…) do que se escreve ao que se compõe, do que se pinta ao que se esculpe, do que se fotografa ao que se filma, do que se conserva ao que se expõe”.
Na sessão de apresentação, o autor sublinhou outras perspetivas do tema, como o chamar a atenção das pessoas fazer parte dos processos criativo e comunicativo: “tudo se faz pela conquista da atenção, tudo parece feito para captar a nossa atenção e para nos distrair do nosso ‘objeto de atenção’. Publicitários, media e redes sociais disputam-na e arrebatam-na”. E referiu ainda que na valorização que concedemos às coisas, fruto da nossa educação, percurso de vida e meio envolvente, “damos atenção àquilo que aprendemos a valorizar e valorizamos aquilo a que aprendemos a dar atenção”. Ao sublinhar que “a atenção aparece atualmente como um novo fator de produção e criação de valor”, o autor terminou a sua intervenção apelando que à “economia da atenção se responda com uma ecologia da atenção”, recuperando o título de Yves Citton que cita como pretexto de “a Atenção”.
“a Atenção” em Viseu
A escolha da escola Secundária Viriato para uma nova sessão a partir deste livro, desta vez em Viseu, resulta, de acordo com o professor João Monney Paiva, Presidente do Politécnico de Viseu, “duma constatação, dum desígnio e duma convicção: a constatação duma dinâmica inclusiva e holística, percebida nos objetivos perseguidos pela sua direção e pela participação da respetiva comunidade educativa; do desígnio proclamado de que uma escola secundária seja uma porta aberta para o mundo; e da convicção de que o acesso ao conhecimento não é apanágio de nenhum segmento da sociedade, não é prerrogativa de nenhuma condição humana, antes sim do género humano, no seu todo e na sua diversidade”.
Os interessados em adquirir a obra devem contactar a PV Editora através do link http://PV.i.ipv.pt ou por e-mail para: PVEeditora@sc.ipv.pt
José Manuel dos Santos
Escritor, curador, programador e gestor cultural, José Manuel dos Santos é igualmente administrador e diretor cultural da Fundação EDP, diretor da revista Electra, administrador da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva e diretor da Trienal de Arquitetura de Lisboa. É membro da Comissão Coordenadora do Centenário de Sophia de Mello Breyner Andresen, coordenador editorial das “Obras de Mário Soares”, na Imprensa Nacional, e membro efetivo da Academia Nacional de Belas Artes e do PEN Clube português.
“a Atenção”
(…) Vivemos, pois, numa época em que, consciente ou inconscientemente, a atenção, com a procura premente dela e daquilo que a gera, é um acelerador de partículas da vida individual e coletiva. Dos impulsos narcísicos aos ímpetos competitivos, dos fundos dionisíacos do inconsciente aos jogos ilusórios da economia, da pesada omnipresença das redes sociais às seduções ligeiras da publicidade, das notícias falsas às famas fictícias, das obras de arte exibicionistas aos populismos políticos, a atenção é o grande motor de busca de um tempo sem silêncio. A atenção é, dele, simultaneamente a sonda e o sensor. E ainda o algoz e a vítima. (…)
(…) A atenção é, nos seus mais altos graus, a procura e a espera do kairós – o momento oportuno e supremo, ou o tempo certo e qualitativo – no (ou sobre o) chronos – o tempo linear, sequencial e quantitativo. Dito de outra maneira: a atenção é então a procura do tempo dos deuses (a eternidade) no tempo dos homens (a mortalidade). E não esquecemos que a prece é uma atenção que quer ser atendida. (…).
